terça-feira, 26 de junho de 2007

escrevendo sobre Hip Hop

Uma das minhas paixões...em primeiro lugar licença para falar do movimento (que admiro muito)...


Mariana Bonora: Licença pra falar do movimento...

Em primeiro lugar eu peço licença para falar de Hip Hop. Peço isso porque muitas vezes eu me sinto invadindo uma realidade que não é muito minha, mas isso dura apenas alguns minutos, os iniciais normalmente. Assim como a psicanalista Maria Rita Kehl afirmou certa vez, o que nos aproxima dos manos é o mesmo sentimento de revolta e a vontade de mudar, nem que seja um pouquinho, essa realidade com a qual a gente convive todos os dias. Acho que foi por isso que escolhi fazer jornalismo, um pouco utópica e ingênua a minha idéia sobre jornalismo, mas a gente sempre precisa de um ideal para continuar na caminhada.
Acredito que foram essas paradas mesmo que me aproximaram do hip-hop, a iniciação foi ouvindo rap e depois a gente se dá conta que o ritmo e a poesia fazem parte de uma coisa muito maior. Acho que nem vira aqui fica falando sobre as proporções do barato porque até quem não quer ver, até pra quem não acreditou, não aceita e demais atitudes do tipo, é obrigado a enxergar a verdade - a revolução está aí - e ela vem da onde tinha que vim mesmo, da periferia, da parte da população que conhece o verdadeiro rosto do Brasil.
Mas, voltando ao foco do que eu queria escrever aqui, depois desse primeiro contato fui meio que invadindo os espaços, porque eu queria participar de alguma forma, só o papel de fã do movimento não tava virando. A primeira invasão foi quando a gente analisou as letras de Sobrevivendo no Inferno para aulas de Teoria da Comunicação, um viés acadêmico, mas foi assim que fui entendendo a mensagem. A Fórmula Mágica da Paz foi a que mais marcou, as vezes o caminho da paz só vem com mágica mesmo.
A partir daí era pegar as brechas e ir entrando devagar na parada. Uma vez entrevistei o Thaíde e perguntei como ele entrou no hip-hop e ele deu uma resposta legal, falou que na verdade ele não encontrou o hip-hop, foi o contrário o movimento que encontrou ele. Pensando nisso eu posso falar que comigo a história foi diferente, eu procurei o barato mesmo, mas o caminho é a humildade. Como eu estou chegando agora e nem sei rimar, nem dançar, graffitar e muito menos riscar os discos entrei com o que eu tinha e pra fazer o que eu podia fazer – fui pesquisar o movimento – o aprendizado é o primeiro passo e com a troca de experiências você acaba ensinando também. E hoje eu posso colher alguns frutos disso e me sentir um pouco menos “invasora”.
Quanto aos frutos um é um trabalho de 80 páginas que gostaria de dividir, não acho que seria muito produtivo guardar na gaveta, e quem sabe um dia eu possa participar da “revolução escrita” anunciada pelo Ferréz; o outro é o programa na web rádio e o obstáculo é a exclusão digital em que se encontra a maioria do nosso público alvo, mas a gente está na caminhada pra levar o programa pra rádio aberta; e o mais importante é o que eu presencio em todo acontecimento do movimento hip-hop na minha cidade (a minha Bauru sem limites...). Não são apenas jovens dando giros de cabeça, rimando no microfone, comandando os scratchs ou colorindo muros, são jovens que até então eram meros coadjuvantes da chamada “cultura oficial” e hoje podem ser os protagonistas da sua própria história.
A gente só tem que se organizar contra a apropriação, pro barato não virar instrumento de assistencialismo. Por isso eu peço licença pra falar do movimento e agora a agradeço. Por enquanto eu ainda bato na porta antes de entrar e quem sabe um dia eu encontro ela já aberta. O importante é que estou trilhando o caminho e os espaços vão surgindo, mas nada vem de graça, ainda bem. E quem sabe numa próxima brecha eu possa falar das 80 páginas...


(publicado em: http://www.vermelho.org.br/diario/2006/0113/especial_0113.asp?nome=Especial&cod=5286)

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Os rumos do Hip Hop: formas de preservação do movimento.

Faz tempo que não escrevo nada sobre o movimento Hip Hop, eu fiquei praticamente os quatro anos da minha faculdade pesquisando, lendo e escrevendo sobre esse movimento socio-cultural. Não só isso, fiquei, especialmente no último ano, em contato direto com todas as manifestações do Hip Hop na minha cidade. Na tentativa de escrever algo sobre esse movimento, que eu admiro muito e que ao mesmo tempo me entristece ao ver que os alicerces do Hip Hop em Bauru estão se enfraquecendo em alguns pontos, eu lembrei de um epsódio durante a minha faculdade.
Quando eu estava fazendo minha iniciação científica, eu pesquisava sobre a obra dos Racionais MC´s na época, uns colegas estavam fazendo um trabalho sobre negros, acho que era uma radiorrevista e vieram me entrevistar já que eu pesquisava o movimento Hip Hop, que tem uma raiz inegável nas questões raciais, tanto na temática como no próprio sentido cultural do movimento, nas suas influências que vêm dos tempos dos griots africanos. A primeira pergunta foi sobre a questão do preconceito racial, presente nas músicas, como funcionava isso dentro do movimento. Eu não lembro exatamente o que respondi, mas, eu abordei mais pelo lado social e não a questão racial em si, pelo fato de temáticas diferentes estarem aparecendo no mundo do Hip Hop, pelo fato de pessoas brancas, também, participarem dessa evolução, tanto como consumidores ou artistas de cada uma das quatro manifestações. E, assim, a música do Hip Hop, o rap, passou a abordar uma temática mais social. Beleza, mas, hoje eu vejo essa reposta como um pouco ingênua.
De fato as temáticas são variadas dentro do rap. Hoje na verdade se vê letras que podem falar sobre tudo, inclusiva da “bailarina, que era tão linda” e demais rimas (pobres) que se vê por aí. No entanto, eu acho que isso inclui uma outra questão, o rap como estilo musical e o rap como um elemento do Hip Hop. Eu sei que muitos puristas do movimento são contra isso, contra a comercialização da música do Hip Hop (o rap), mas, isso é fato inegável. O estilo assumiu contornos que hoje não existe mais um perfil de um cantor de rap. Um estilo musical tem certas caracteristícas que o identificam como tal, e isso, também, acontece com o rap.
Mas, a discussão não deve ser se isso deve ou não acontecer, porque a música é licença poética, se um artista a tem, ele pode falar sobre o que quiser no ritmo que for conveniente, cabe ao público aprovar a não, com respectivas palmas ou vaias. O que deve ser preservado sempre é a raiz do Hip Hop, e o Hip Hop não é só rap. Uma vez eu estava entrevistando um cara que dava oficinas de grafite e ele falou uma frase que eu guardei e reflete bem isso, não lembro bem o que eu perguntei a ele, mas, no meio da resposta ele afirmou que “o Hip Hop é um elemento do grafite, mas, não necessariamente o grafite é sempre um elemento do Hip Hop”. A consciência disso poderia evitar muitas discussões vazias. Manifestações paralelas são formas de arte. O que tem seu valor sim, claro, é cultura. Mas, a essência do Hip Hop é muito mais que isso, ele é um movimento com raízes sociais, com ações e manifestações que refletem essa questão. E nesse ponto não existe licença poética, só quem é pode ser, só quem vive essas raízes pode saber e cantar, desenhar, dançar ou musicar isso.
Diante disso, eu acredito que são discussões vazias decidir quem pode ou não cantar rap, grafitar, ser DJ ou b-boy, é perder tempo pensar em maneiras de frear a comercialização do rap, é tentar parar com um processo que acontece com todas as formas culturais que transpuseram os muros formado pelo grupo social onde nasceram, formas que ganharam visibilidade e sucesso. Quem conhece a história de evolução dos ritmos musicais negros entende o que eu estou falando, de alguma forma ele se renderam ao mercado, muitas vezes não pela ação dos que os inventaram, mas, pela apropiação por parte de outras camadas sociais. A bandeira do movimento tem quer ser a preservação do próprio movimento.
Um cantor de rap não é necessariamente um militante do Hip Hop, mas, um militante que se reduz a um artista apenas não pode ser mais considerado parte integrante do Hip Hop. É nesse ponto que o a luta tem que se focar, em ações que viabilizem o lado social do movimento e que isso seja passado para a nova geração, através de oficinas, palestras, debates e outras formas de discussão para o Hip Hop não se transformar em uma fábrica de artistas e sim continuar sendo uma ferramenta de inclusão social através da cultura, um movimento socio-cultural legítimo que se manifesta em quatro pilares artísticos (os elementos) e um pilar fundamental: o conhecimento.
Um conhecimento que é necessário por parte dos críticos do movimento também. Por isso eu bato palmas para o artigo do Aliado G publicado recentemente no Hip Hop a Lápis, onde ele esclarece e explica mais uma vez a rica raiz do rap e indica nessa história um ponto que deve ser explorado pelas manifestações artísticas do Hip Hop – a raiz africana. Eu acredito que o Hip Hop no Brasil tem que se prender mais a essas influências e buscar a cara brasileira do movimento se afsatando um pouco da matriz norte-americana que já perdeu muitos dos seus ideais, pelo menos é o que espelha a nova geração de rappers que vemos se multiplicar a cada dia, como uma verdadeira fábrica de artistas. Eis um caminho a ser trilhado: a busca pela Mãe- África.

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