quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

ÉTICA

Um assunto em voga sempre, ainda mais quando sofremos com a falta dela. O que acontece quase todos os dias, vemos em todo o canto o resultado das ações de pessoas que, simplesmente, não tem ética, ou possuem uma que não condiz com a sociedade que queremos viver e sim com a que vivemos hoje, infelizmente. Eu achei dois texto que fiz sobre o assunto e resolvi postar aqui.

O primeiro foi um trabalho que fiz para uma disciplina que, coincidentemente se chamava ética. O outro foi uma matéria que eu fiz para o jornal mural da faculdade, o EXTRA! fala sobre a ética na minha profissão, o jornalismo. É bem curtinha a matéria, mas, tem algumas coisas legais.

Uma ética pessoal


Na busca pela definição de uma ética pessoal, acredito que seja importante contextualizar algumas concepções do que seria a ética, que de certa forma, contribuíram para a nossa noção atual do que é uma conduta ética. A preocupação com essa temática data do início do que ficou conhecida como “filosofia moral”. Essa vertente nasceu das indagações socráticas acerca do por que dos valores e costumes cultivados pelos atenienses, a partir de suas perguntas e das respostas que lhe eram dadas, Sócrates chegou à conclusão que a conduta dos atenienses era um produto dos costumes da sociedade em que viviam, portanto, o “ser ético” possui uma variante que é o tempo e o ambiente social no qual o sujeito vive.
Da inauguração de Sócrates, passamos para outro filosofo grego. Aristóteles acrescentou a filosofia moral os termos saber teórico e saber prático e suas diferenciações. O saber teórico é conhecimento que obtemos a partir dos fatos naturais, que ocorrem independente da ação humana, enquanto que o saber prático depende da atividade humana. E da prática ele defini suas duas divisões: práxis e a técnica. Da práxis vem a noção da ética colocada por Aristóteles, considerando a práxis como a ação que é inseparável de sua finalidade e seu agente, ela é ética quando “somos aquilo que fazemos e o que fazemos é finalidade boa ou virtuosa” .
Assim, a virtude aparece como equilíbrio entre a falta e o excesso de um sentimento, a ação do homem de controlar seus instintos naturais que, para os gregos, se dá através da educação. O aprendizado do domínio racional das paixões, direcionando a vontade para o bem, que deve ser coletivo, ou seja, o homem só pode ser ético em sociedade. Por isso nesse contexto as discussões éticas ocupavam a esfera pública, o que determina a ética inseparável da política.
Avançando alguns anos, séculos na verdade, temos a ética transcendental kantiana. Kant apresenta elementos do racionalismo grego e da ética do dever instituída pelo cristianismo. A diferença entre o dever kantiano e o cristão está na definição de liberdade. O dever cristão se relaciona com a obediência a um ser divino, Deus, portanto nos tornaríamos morais por uma força externa, o que restringe o caráter de sujeito autônomo imposto pela ética. Kant, por sua vez, apresenta o dever como algo que é “proposto pela razão a nossa vontade livre” e, não, imposto por vontades divinas. A obediência nesse caso é a si mesmo.
Quanto a essa razão, Kant a divide em pratica e teórica. No mesmo sentido grego, a teórica seria a razão do mundo natural, onde as ações são guiadas pela necessidade (causa e efeito), e a razão prática se encontra no campo da ação humana, onde a conduta é guiada pela razão tendo em vista um fim, uma finalidade. A ética de Kant se encontra nesse campo, quando as ações visam fins éticos e para alcançar esse fim os meios devem ser igualmente éticos. Para isso nossa razão prática determina regras para ação ética, isso é o que se chamou de dever. Mas não é a simples ação conforme o dever que nos torna seres éticos e, sim, o querer, a vontade, em realizar esse dever.
Ainda de acordo com Kant o dever é um “imperativo categórico”, ou seja, não se trata de uma listagem de coisas que devem ou não ser feita, mas, uma forma de agir que sirva de modelo para os outros. Não importa o que exatamente se está fazendo e sim que isso possa se tornar uma lei universal a ser seguida, para isso os sujeitos devem ser sempre o fim e nunca um meio. Enfim, de acordo com a razão está no indivíduo, portanto é uma ética sob o ponto de vista do sujeito.
Mais recente é “ética do discurso” apresentada por Habermas. Com base em Kant, Habermas utiliza, ao discutir a ética, o termo da razão prática, como a capacidade humana de raciocínio voltado para “o agir”. Essa capacidade pode se dar de três maneiras: o uso pragmático, o uso ético e o uso moral da razão prática, utilização determinada pela motivação da prática.
O uso pragmático é a ação orientada apenas por sua finalidade, sem muita preocupação com a forma de alcançar esse fim, na verdade, é o uso que sustenta o nosso sistema social atual, a ação motivada pelo seu resultado, o que Habermas classificou como a colonização do mundo da vida. O uso ético tem como finalidade o que é bom do ponto de vista individual, ao ponto que são as escolhas e atitudes coerentes com o projeto de vida de um sujeito, e coletivo, porque essas escolhas são feitas com base em valores e modelos oriundos de um determinado contexto social. A definição da vida boa, busca do indivíduo, é dada pelo grupo social ao qual pertence. Um uso ético baseado nas tradições.
E, por fim, o uso moral da razão prática, que determina o que é moralmente certo, que é não impulsionado pelo resultado de ações e nem pela busca do bom. É norteado apenas pelo conflito da justiça. Quando nos perguntamos o que é justo estamos fazendo o uso do princípio moral. Compreendendo os princípios morais como um conjunto de regras essenciais para convivência coletiva, Habermas propõe uma moral que deve ser universalista, cognitivista e formalista. Universal no ponto de vista que as regras são legitimadas através do diálogo entre os sujeitos envolvidos em sociedade, por meio do “agir comunicativo” buscar valores que sejam comuns e aceitos por todos sem coação. Cognitivista porque só se define as normas morais através da razão e do conhecimento. E formalista, à medida que a importância da ação moral não se dá por seu conteúdo e sim a motivação da atitude do sujeito, que pode se modificar ao longo da história.
Por essas características, para Habermas “as ações morais são aquelas que conseguem desprender-se do mundo ético tradicional e buscam guiar-se por princípios descobertos a partir da reflexão e do questionamento” . O processo que Habermas definiu como a descolonização do mundo da vida.
Diante dessa breve contextualização de concepções éticas, fica claro que a nossa ética pessoal resulta desses conceitos, porque, de certa forma eles refletem aspectos sociais que mesmo de épocas diferentes derivaram aspectos em nossa sociedade atual. Assim sendo, acredito que procuro agir conforme o que Habermas definiu como ações morais.
O uso moral da razão prática é o único que encontra alicerces reais no contexto em que vivemos, porque diante das diversidades de culturas, costumes e situações que vivenciamos em nossa sociedade globalizada, o que é justo só pode ser possível através do diálogo entre essas diferenças.

Notas:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.p.312
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.p. 317
GUZZELLI, Iara. A especificidade do ato moral em Habermas. O uso moral da razão prática. Disponível em: < http://www.sedes.org.br/Centros/habermas.htm> acesso em: 3.out.2006

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É a universidade que nega a lei mercado? Ou seria o contrário?

No momento da discussão da ética jornalística existe um embate entre o ideal apresentado na teoria, aquele que os estudantes de jornalismo constroem na universidade, e o que se apresenta na prática, no cotidiano das redações. Nesse sentido a universidade que nega a realidade do mercado ou esse que, mergulhado na corrida pelo furo jornalístico, ignora a base teórica e a reflexão? Segundo o professor de ética da Universidade do Sagrado Coração Luís Henrique, o jornalista imerso no mercado de trabalho não realiza o ato de reflexão sobre a ética e sua prática. Nesse sentido Luis Henrique acredita que o mercado tem que se voltar mais para o caráter de conflito de idéias presente na universidade “jornalistas não gostam de discutir o próprio trabalho, falta no seu cotidiano a prática de refletir”.
Já o jornalista Nelson Gonçalves acredita que a universidade erra ao não discutir a realidade do mercado de trabalho. “A universidade pública enquanto formadora de conteúdo cultural e filosófico é importante, mas na área de comunicação ela nega o mercado e não dá para ser laboratório a vida inteira” afirmou o jornalista. Dessa forma a universidade pecaria por teorizar e idealizar demais e o mercado por priorizar prática sem reflexão.
Porém, mais importante que o balanço entre teoria e prática é a reflexão até que ponto os interesses pessoais, políticos e econômicos influem no direito à informação. Assim a questão ética passa pelas escolhas de enfoque, as linhas editorias. Essa discussão é feita na universidade, mas assim como levanta Nelson Gonçalves “ela parte do pressuposto de que o mercado está errado”, por outro lado o mercado diante da velocidade das informações insiste que “na prática a teoria é outra, tem que ser feito do jeito que dá” como ressaltou o professor Luis Henrique. Diante do eterno embate a conduta ética acaba por ser um encargo de cada jornalista ao elaborar o seu texto, na escolha do melhor caminho entre a lei do mercado, da qual depende economicamente, e sua responsabilidade social como um formador de opinião.

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