Eu comecei pelo South Bronx, mas tem "a floresta de concreto e aço" como tudo começou em São Paulo. Mais uma parte do meu trabalho.
São Paulo, Brasil.
No Brasil, o movimento hip hop aportou primeiro na cidade de São Paulo. Chegou com os passos do break, vistos pela primeira vez nos bailes funk. Aos poucos foram chegando novas informações acerca dessa dança que mistura os passos de outras, a maioria de origem africana, como a capoeira. E descobriu-se, assim, que o break fazia parte de uma realidade muito mais ampla, a da cultura hip hop. Na bagagem da dança vinham, também, o grafitte, o rap e o DJ. Através do intenso fluxo de informações que se criou entre os percussores do movimento e os materiais oriundos do seu local de origem, formou-se um primeiro grupo de jovens interessados nessa manifestação cultural. Jovens que fizeram da Estação São Bento de Metrô e da Praça Roosevelt o local de criação, desenvolvimento e expansão dessa arte, juntamente com seus ideais originais. Aqueles mesmos que em alguns anos seriam praticamente extintos no Estados Unidos, seu país de origem.
Essas informações apresentadas acima nada mais são que, em síntese, um pequeno registro da origem do movimento hip hop nacional, que já foram explicitados no relatório parcial. A importância desse item no relatório final justifica-se pela diferenciação dos rumos que o movimento adquiriu aqui no Brasil que deve ser citada aqui.
No país o movimento procura preservar a sua identidade com os jovens que vivem na periferia, em sua maioria negros, portanto, uma certa identidade maior com essa etnia, abordando assim com maior freqüência os problemas étnico-sociais. Uma preocupação, também, com a mobilização social, com as questões que não poderiam ser só levantadas através dos raps, mas também, discutidas conscientemente por meio da emancipação do indivíduo proporcionada pelo saber adquirido pela cultura. No caso a cultura hip hop.
Com a fundação de posses, organizações não-governamentais e/ou associações culturais o movimento oficializou seu papel social nas periferias e com a possibilidade do aprendizado, das trocas de informações, instituiu o seu quinto, e mais significativo elemento - o conhecimento. Que pode ser definido nas palavras de Marcelo Buraco, ativista do movimento nacional desde seus primórdios, um conhecimento que “significa conhecer as origens e a cultura hip hop além da história da África e dos afro-americanos” .
Assim, a periferia pôde aos poucos mostrar o seu verdadeiro rosto e ocupar um lugar de indivíduo atuante na sua própria história. E o mais vital descobriu a sua voz e pôde mandar a sua mensagem para toda uma sociedade que insistia em não ouvi-la, que ignorava a sua presença. Através dos discursos inflamados dos grupos de rap que surgiram e da atividade artística de outros integrantes do movimento a favela se viu representada. Esses “meninos do rap” assumiram a responsabilidade de porta-vozes dessa maioria urbana. As pessoas que nunca se viram representadas em nenhum meio de comunicação e nem por seu governo, puderam enfim, identifica-se com essa cultura.
Não tem como ignorar a transformação que o hip hop promoveu na periferia, para ilustrar, um exemplo apresentado nas palavras da jornalista Natália Viana
O Capão Redondo, antes conhecido pelas altas taxas de criminalidade de bairro pobre da periferia, ganha fama como berço do rap. Nas vielas estreitas da quebrada dos Racionais, cada barraco é um estúdio, cada campinho cenário para um show .
Essa transformação se expandiu pelas periferias de todo o país, em alguns locais as iniciativas sociais empreendidas pelo movimento chegaram antes mesmo dos elementos culturais, aproximando ainda a mais a cultura da mobilização social.
O movimento hip hop brasileiro está se encontrando de um jeito político mesmo. Não só como movimento cultural, mas também de transformação...Não como uma bacia pra arrumar dinheiro... Hip hop é sofrimento mesmo... É você tocar em feridas.
Uma cultura que cresce em meio ao um local que pouco se dava crédito em termos artísticos, e, ainda, que se desenvolve e se expande alheio aos aparatos da indústria cultural, ou seja, que consegue vender em um mês 200.000 cópias de um grupo de rap sem nenhuma divulgação na mídia. Um fenômeno assim não passou muito tempo ignorado pelas grandes mídias e as outras classes sociais.
Conscientes do aconteceu com o movimento no seu país de origem, o hip hop nacional vive em constante combate, luta para manter-se independente, ao mesmo tempo que o rap, um de seus elementos, é o estilo que mais vende no país. Trava uma batalha diária pela manutenção de seus ideais enquanto empresários e comerciantes do mercado fonográfico fazem de tudo para descobrir a fórmula para tamanha popularização.
Esse cenário conflitante abriu espaço para diversas discussões, acadêmicas ou não, acerca das características peculiares desse movimento, bem como suas reais intenções e seus futuros caminhos, e essa pesquisa pretende dar sua pequena contribuição, através da análise de parte da obra do grupo de maior destaque em todo esse cenário exposto. Nada é definitivo já que essa cultura é algo relativamente novo na história do Brasil, tem apenas 25 anos, mas é inegável a força dessa expressão cultural no país. Um ponto para nós em relação aos precursores norte-americanos: aqui existem muitos “guerreiros” que travam batalhas diárias contra apropriação e pasteurização desse movimento genuinamente da periferia pelos interesses do mercado
Hip hop é arte em sua plenitude. Arte feita por quem está querendo saber quem é, onde está e por que veio parar aqui neste mundo. Porém, como é que alguém que conquistou a sua própria voz vai se calar para que outra pessoa fale em seu nome? .
A resposta para esta questão esta nessa batalha travada todos os dias, mas como ela deve acontecer, quais seriam os caminhos certos para a vitória é um outro questionamento que só esses artistas da periferia, esses “cronistas da favela” podem encontrar a resposta.
Referências
AMARAL, Marina. De volta para o futuro. Caros Amigos.São Paulo, n.24, jun.2005. Edição Especial.p.05
VIANA, Natália. Onde nasce a rima.Caros Amigos. São Paulo, n.24, jun.2005. Edição especial p.20
CAROS AMIGOS. O hip hop é um instrumento de transformação. In: Caros Amigos. São Paulo, n.99, jun.2005.p.32
CAROS AMIGOS. Hip Hop Hoje: o grande salto do movimento que fala pela maioria urbana. São Paulo: CASA AMARELA, n.24,jun.2005. 30 p. Edição Especial. p. 03
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