O movimento hip hop: Origem no South Bronx e Advento em São Paulo
O rap , objeto dessa pesquisa, faz parte de uma realidade mais ampla que envolve música, dança e arte visual - o movimento hip hop, que teve origem no South Bronx, Nova York, como ações culturais dos jovens negros e latinos, discriminados e localizados à margem da sociedade.
O hip hop, então, surgiu em meio a manifestações de políticas afirmativas desses jovens, minoria sob o ponto de vista de direitos civis no Estados Unidos.
Esse movimento social seria conduzido por uma ideologia (ou pelo menos por certos parâmetros ideológicos) de autovalorização da juventude de ascendência negra, por meio da recusa consciente de certos estigmas (violência, marginalidade) associados a essa juventude imersa em uma situação de exclusão econômica, educacional e racial .
No plano cultural, essas manifestações haviam iniciado com o soul e funk na década de 60. O soul, especialmente, foi fundamental para conscientização dos afro-descendentes e posterior fundamentação do movimento negro norte-americano pelos direitos civis. Dessa forma a “música foi fonte de inspiração, e virou hino de batalha pelos direitos civis” representada por movimentos como o Black Power e Black Panthers, no plano político-social .
Essa peculiar importância que a música possui no cerne dos movimentos negros justifica-se pela musicalidade sempre presente nas culturas africanas, que foram sofrendo adaptações nas Américas, das work songs cantadas pelos escravos ao rap da atualidade, passando pelas já citadas correntes - o soul e o funk.
E foi nesse caldeirão das lutas político-sociais e resistência cultural dos afro-descendentes que o rap e os demais elementos do hip hop surgiram, o rap influenciado, também, por elementos musicais dos estilos anteriores. A necessidade de uma nova corrente cultural desenvolvida pelos negros foi eminente diante da comercialização das anteriores, o soul e funk, que, embora tenham sido cruciais para os movimentos de afirmação dos afro-descendentes, haviam perdido o caráter essencial de resistência, explicitado acima, ao serem absorvidas pela indústria cultural na efervescência da onda disco
No início da década de 70, no entanto, novas práticas culturais já se desenvolviam no Bronx (Nova Iorque), utilizando-se das facilidades da tecnologia dos aparelhos de som. Herdando elementos de quase todas as manifestações afro-americanas anteriores... Surge um elemento musical contestador, contrapondo-se ao êxito comercial da disco: o rap.
As novas práticas citadas, mais tarde, aglutinaram-se na chamada cultura hip hop. O South Bronx foi o cenário do desenvolvimento dos quatro elementos da nova cultura
Com tinta e spray, alguns desenhavam os contornos de seu mundo, reproduzindo imagens que não eram alcançadas ou privilegiadas pelos mass media: o Graffite. Com os próprios corpos, outros construíam e desconstruíam, a partir da dança, a conexão e ruptura com um mundo de alta tecnologia. Os movimentos dos Breakers lembravam os robôs, ou eram a mímica automatizada de procedimentos do cotidiano, sendo a um só tempo crítica e relato: o Break.Com voz e bases sonoras, gestavam uma narrativa influenciada pela memória recente dos grandes líderes afro-americanos assassinados nos anos 60, Malcom X e Martin Luther King, suas lutas pela auto-estima e igualdade: o Rap.
O Dj (disck-jockey), embora não seja citado diretamente no trecho, é considerado o quarto elemento do movimento. Ele é o construtor do fundo musical no qual o rapper “manda” a sua mensagem. Seriam as “bases sonoras” citadas.
Como foi apresentado, o hip hop nasceu como um movimento contestatório, no seio de uma classe marginalizada, social e etnicamente, nos EUA. A cultura que surgia representou o desenvolvimento de diversas correntes anteriores que lutavam pela identidade e pelos direitos dos cidadãos negros norte-americanos.
A popularização do rap, por sua vez, foi responsável pela ascensão de muitos artistas do movimento.Como conseqüência dessa difusão e sucesso da música do hip hop (o rap) nos EUA, atualmente essa cultura originalmente de rua é mais um produto da industria fonográfica, dissolvido no pop mainstream e descartável, com mínimas exceções como o grupo Public Enemy, que inspirou os Racionais e vários grupos brasileiros e a quem é atribuída a politização do rap norte-americano.O que podemos ver na cena rap norte-americana são letras recheadas de machismo, sexismo, festas e bebidas e nos clipes é obrigatório um carro de luxo e muitos cordões de ouro no pescoço, divergindo dos ideais originais dessa cultura.
NOTAS
À titulo de conhecimento rap é a sigla das duas características que constituem o estilo musical- ritmo e poesia ( do inglês rhythm and poetry)
ROCHA, Janaína; DOMENICH, Mirella; CASSEANO, Patrícia. Hip Hop - a periferia grita. São Paulo: Fundação Perseu de Abramo, 2001. p.18
YOSHINAGA, Gilberto Kurita. Resistência, Arte e Política. Registro Histórico do Rap no Brasil. 2001. 134p. Trabalho de Conclusão de Curso - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, 2001. p.36
YOSHINAGA, Gilberto Kurita. Resistência, Arte e Política. Registro Histórico do Rap no Brasil. 2001. 134p. Trabalho de Conclusão de Curso - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Bauru, 2001.p.37
RUBIM, Lindalva. A construção de identidade no Hip Hop e o rap como contra-narrativa 2000. Disponível em: Intercom
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