quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

um texto que escrevi há um tempo

Eu escrevi este texto na época que aconteceram os ataques do PCC em São Paulo. Eu sei que ele é um pouco polêmico, teve gente que teve problemas ao revelar que pensa assim como eu, porém, eu o escrevi em um momento que estava realmente revoltada com o que estava acontecendo. E no fundo todo mundo sabe que é assim que acontece mesmo, só o mais hipócritas não assumem. E isso eu não quero ser. Aprendir a escrever assim lendo os textos de uma jornalista que é um exemplo para mim, de coragem, de inteligência, de sensibilidade, para mim ela é a melhor jornalista que se tem hoje no Brasil...Marilene Felinto.

Os filhos da Classe Média

Eu já pensava isso quando ouvi os primeiros números de mortos na represália aos ataques do PCC em São Paulo. Os pobres meninos filhos das favelas e periferias da “grande floresta de concreto e aço” sempre pagam pelos abusos policiais diante das ondas de terror e pânico que vira e mexe assolam São Paulo.
Hoje eu estava lendo o artigo do Ferréz na Caros Amigos desse mês e, mais uma vez, comprovei o que pensava. Os meninos da periferia pagaram com suas vidas, mais uma vez, o pânico das senhoras da classe média afoitas por um índice satisfatório da ação policial. Em tempo, índice esse medido pelo número de “suspeitos” das facções criminosas que são mortos. Mortos em pseudo-confrontos em que, incrivelmente, nossos bons policiais acertam cinco tiros em cada um, a maioria na cabeça, na parte de trás ou no meio da testa. Fico pensando que pontaria nossos policiais têm, poderiam ser o idealizadores da guerra cirúrgica tamanha precisão que atiram em meio ao um “fogo cruzado”.
O mais espetacular é que, além da pontaria excepcional, eles são inatingíveis, pois, num confronto a baixa de policiais é quase sempre (para não dizer sempre) zero.
Volto a pensar nas senhoras eufóricas da classe média, se passa pela cabeça delas que esses meninos poderiam ser seus filhos. Acredito que não, são a classe média do Brasil. Se julgam inatingíveis, assim como o esquadrão da morte da polícia, inclusive, da parcela de culpa que tem em todos esses acontecimentos.
Ferréz fala de dois jovens, entregadores de pizza, que foram assassinados. É, realmente, os filhos da classe média não são entregadores de pizza. Eles são donos, ou filhos dos donos, dessas pizzarias. Ou, no mínimo, tem a possibilidade de saboreá-la.
Não estou aqui para justificar os acontecimentos desencadeados pelo PCC com meus pensamentos, longe disso. Mas, mais longe ainda é acreditar que a guerra foi controlada, que os inocentes (da periferia ou não) não vão mais morrer, que a polícia está preparada para enfrentar esses acontecimentos, que o Estado vá fazer algo a respeito de disso. Ainda mais longe está a possibilidade da classe média não tapar os olhos novamente, se esconder nos seus muros blindados, não sair às ruas pedindo aumento das penas e redução da maioridade penal. Quando na verdade deviam enxergar que nossas cadeias não passam de um deposito de gente. Mano Brown já falou, “frustração, máquina de fazer vilão”.
Se nada justifica a violência, a cegueira da nossa sociedade está aí para, ao menos, explicar porque ela existe. Vamos continuar colocando a sujeira debaixo do tapete, passando concreto em baixo das pontes, expulsando os mendigos, deixando a cidade “mais bonita”, empurrando as pessoas para as periferias, o outro lado da ponte, a construir grades...É Marilene uma guerra seria muito pouco mesmo...

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