quarta-feira, 19 de março de 2008

Sobre o elemento mais visado do Hip Hop - O RAP

Como prometido, vai aqui mais uma parte do meu relatório, uma espécie de justificativa por eu ter escolhido falar sobre o Rap especificamente, dentre todos os elementos do movimento Hip Hop.

Rap: o elemento mais visado do hip hop

O Rap é o elemento de maior difusão do hip hop. Desde de sua origem foi o elemento aglutinador dos demais, foi com a presença do “canto falado” que os demais elementos fundiram-se no movimento hip hop, assim como afirma a pedagoga Eliane Andrade

Na realidade, era comum entre os jovens dos guetos daquela época dançar o break e grafitar (pintar muros e paredes), mas foi a introdução da música Rap que se fundiam os três elementos, fundando o hip hop. A partir dessa junção, tanto o break como o graffite passaram a ter também um sentido, um objetivo, um significado.”

Sendo assim, o rap aparece como uma espécie de hino do hip hop, portanto, como já foi afirmado, o elemento mais visado e o maior responsável pela difusão dos ideais do movimento.
Outras características que facilitam o acesso maior ao rap que os outros elementos é a própria essência da música, ela atinge muito mais pessoas do que a arte visual e a dança. O rap possui a mensagem mais compreensível do hip hop, está ali de forma clara através de palavras e do diálogo entre os MC´s , os ideais do hip hop. Por outro lado os desenhos dos graffites e os passos do break necessitam de um maior conhecimento do contexto do movimento. Não que a consciência dos ideais do hip hop não seja importante na assimilação da mensagem do rap, mas a mensagem através da palavra facilita o entendimento já que o diálogo, a linguagem falada, é o nosso tradicional meio de comunicação. Assim a principal arma do movimento é a disseminação da palavra, no caso exteriorizada por meio da música rap.


Por meio da denúncia dos problemas étnicos e sociais e da apropriação seletiva do passado da população negra, ele (o rap) proporciona uma gama de referências para juventude negra. Tais referências questionam o imaginário social de nossa sociedade.

O rap, assim definido, ganha importância no Brasil por representar a atual música de protesto. Diferente das músicas da década de 60 e 70 que tinham como inimigo definido a Ditadura Militar, o rap procura estancar a realidade da periferia, que era ignorada pela maioria dos governos, da classe média e alta até o momento de transposição dos muros da periferia- quando ocorreu a popularização do rap, do ponto de vista do consumo. Os trechos abaixo abordam esse caráter de protesto do estilo

Os tanques militares não estão mais nas ruas, no lugar deles as viaturas. A censura já não existe mais, mesmo assim a classe oprimida não consegue dizer o que quer. O canto que chegava às ruas pelas brechas dos censores exaltava o dia de amanhã, um "outro dia". Protestava e entrava na história brasileira, o poder da música como expressão popular. Hoje, trinta e cinco anos depois, a imagem da música brasileira de protesto mudou. Vivemos a ditadura da violência, mais mascarada do que podemos imaginar. Discutida e ignorada, um dualismo que marca os grandes centros do país. É nesse cenário que emergem as atuais músicas de protesto e o rap ganha força, conquistando gravadoras e vendendo milhões de discos.
A batida e as letras pesadas que falam do tráfico de drogas, de culturas e de informação, de preconceito racial e social, de pobreza ganham um sentido mais sócio-político,numa espécie de trilha sonora dos tempos mais conflituosos, nos quais a idéia de conciliação social é substituída por um discurso de confronto, afastando-se de certa vertente “cordial” do samba e da MPB .

Outro ponto é o culto ao artista, algo que acontece muito entre os jovens, eles se espelham nos artistas, no seu ídolo. Esse condicionamento é mais propício no rap, pois, os MC´s são parte integrante da sua arte, ela só existe com a sua interpretação. Tanto que não existem regravações ou covers dentro do cenário do rap. Cada rapper tem uma mensagem para passar, mesmo diante das repetições de tema, as abordagens são diferenciadas, as tecnologias depositadas nas mãos dos DJs possibilitam inúmeras bases musicais.
Nos outros elementos, por sua vez, a arte é mais visada que o próprio artista, o desenho do graffite só remete ao seu artista na assinatura, e no break o conjunto de passos se sobressai diante da identificação de quem está dançando. Por isso os rappers serem, comumente, os porta-vozes da cultura hip hop, de certa forma o rap é o espelho dessa cultura.
Justifica-se assim a escolha desse elemento como objeto de estudo. Mais que simples manifestação musical o rap representa uma busca pela identidade dos jovens da periferia, principalmente os negros, a maioria nesses locais

O rap, no contexto específico da periferia, poderia estar contribuindo para o processo de emancipação humana, no sentido marxista, que vai se conformando pela capacidade de adquirir cidadania plena, ou seja, participar socialmente, desenvolvendo as potencialidades de realização humana abertas por essa forma de expressão e apropriando-se dos bens materiais e culturais construídos socialmente pelos homens


Essa foi a forma como os raps ficaram conhecidos em alguns Bailes funk onde eram cantados, isso ocorreu antes da chegada de maiores informações sobre o estilo

Notas

RUBIM, Lindalva. A construção de identidade no Hip Hop e o rap como contra-narrativa, 2000. Disponível em: Intercom . Acesso em: 20 nov.2004.
MC’s: Mestre de Cerimônia é o termo utilizado para denominar os cantores de rap, a sigla que os diferencia do DJ.
ROCHA, Janaína; DOMENICH, Mirella; CASSEANO, Patrícia. Hip Hop- a periferia grita. São Paulo: Fundação Perseu de Abramo, 2001. p.31
GABLIMA, Paula. Direto do Laboratório: os novos rumos da atual música de protesto brasileira, ago.2003. Disponível em: Consciência Net .Acesso em: 14 jul.2005.
BENTES, Ivana; Herschmann, Micael. Espetáculo do Contradiscurso. Folha de São Paulo. São Paulo, 18 ago. 2002. Folha Mais! n. 549, p.11-12.
SILVA, Vinícius Gonçalves Bento da; SOARES, Cássia Baldini.As mensagens sobre droga no rap: como sobreviver na periferia, jul.2004. Disponível em: Revista Scielo Acesso em: 5 nov.2004.

Um comentário:

Lipe disse...

Belo blog, devia divulga-lo mais
Parabens!