Esse é do Fernando Bonassi, de um roteiro para Teatro chamado Centro Nervoso...ótimo sobre a dor...
"Onde a dor dói depende de onde a dor foi, por onde a dor vem e pra onde ela vai. Poeque a mesma dor está indefinidamente de passagem por lugares diferentes. Há dores que os doutores sabem explicar perfeiamente, mas não conseguem retirar a dor de parte do doente. É o luxo de uma falação. Uma luxação, ou paenas uma teoria do que a dor doeria, já que uma dor referida em geral não doí mais. Assim, em tese, também não doí menos, por não resistir a qualquer referência, considerando que qualquer dor é uma insistência de e imolar, rebolar, revirar, mas persistir em alguma coisa. Há casos de dores qie nos acomentem em membros ausentes e por pessoas distantes que nem se amolam de se lembrar da gente! Mas as dores incomodam sem parar quando se para pensar em seu movimento renitente. Você pode nem se lembrar que doí até que sente a dor vibrar internamente. Pode ser num dente cariado que quer mastigar o alimento, no estômago enjoado que não consegue digerir um condimento ou na mente perturbada que não consegue decifrar o pensamento que teima em latejar os seus tormentos, pode ser uma dor o corno de quem procura sarna para se coçar, o gozo manhoso do masoquista que gosta de apanhar, o caroço caloso de um tumor no osso, um quisto sebáceo no pescoço chupado, um braço fraturado ou o ombro destroncado, como um Cristo viciado que tivesse carregado uma cruz de pecados e não pudesse despejar os próprios cacos no regaço de um buraco.
é bom dar atenção que a dor é um aviso. A sinalização de um prejuízo que ainda vai acontecer. É uma dor de matar, mas que não chega a morrer, porque o objetivo dessa dor não é se curar, mas permanecer para irritar, complicar, interferir e destruir. É uma dor de cabeça qu eu vou te contar. Um boneco de arame que se amassa. Um vexame que se passa. Uma bosta já basta. Uma miragem que se atravessa. Uma tatuagem que se aplica na testa.
Há uma dor generalizada, criada perlo deprimido para se parofundar em nada. Uma dor de marmelada, mas que pode doer tanto como uma facada no peito. Todos temos um coração a zelar, zerar ou gelar, conforme queiram uns e outros, que preferem esquecer para não sofrer. A memória é fraca para suportar o peso de tanto desamor. É uma deção feia, que bate no ponto nevrálgico de um cartão de compromissos mixos, salários baixos e um profissionalismo ridículo, conformando ume stado de nervos com as contas a pagare as migalhas a receber. Há muita dor em sobreviver nessa situação. À condição de quem já lutou pelo ócio, resta apenas implorar pela droga do vício do trabalho. "Quem paga o pato não o saboreia", doz a velha sabedoria. A dor em si é antiga e sentida por todo os antepassados que herdaram problemas heriditários, mas continua moderna essa dor de preocupação constante e chata, que insiste sem parar até encontrar a localização exata da casca para cutucar e doer a sua natureza. é uma dor localizada com certeza, mas que no isntante que se toca com a mão, a irritação da esfregação das asperezas se espalha pela espinha, por condutas infinitas, terminações nodosas, amarrações confusas e combinações torturantes. Não tem começo a mecha que detona a bomba desse processo. é o susto de uma explosão súbita, como a tensão incendiária de uma dúvida, uma pergunta que não cabe na conjuntura, mas que dura uma eternidade. No entanto, nós insistimos nas apostas. A que será que se destina? Fincar. Fincar. Espremer. Roer até doer ... E assim, esperando essa dor passar, se aprende a deixar a dor doer...Aliás, a dor é uma palavra tão pequena que só mesmo esse dó maior pode ser menor que ela...
Boa noite...
E tentem descansar....apesar do senhor que os acompanha".
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